sábado, outubro 31, 2009



Ele insistia. Era teimoso, não se contentava com o eu-te-amo. Insistia, insistia.
— Diga que é para sempre.
Ela, querendo ser totalmente sincera, respondia:
— Para sempre… não, não posso dizer.
Engraçado que, lá no fundo, sabia que era para sempre, mas desconfiava de promessas que não pudessem ser cumpridas por culpa da vida. Era como prometer que não se iria morrer.
— Por que você não diz, hem Maria? Você não me ama de verdade?
— E como, João! Amo a você até mais do que a mim mesma, mas a vida…
— Pois eu digo sem medo: amo você para sempre, sempre, sempre…
Maria ria entre feliz e sem graça. E entregava-se a esse amor que fazia cada minuto parecer o sempre.
Um dia João chega muito solene e pede-lhe:
— Maria, mesmo que não seja, diga pra mim que é pra sempre, tá? Quero ouvir “para sempre”.
E Maria passou a dizer o advérbio. A princípio tímida; depois categoricamente.
— Eu te amo, João.
— Muito?
— Muito — respondia ela.
— Para sempre?
— Para sempre — confirmava.
O tempo passava. O amor de Maria por João aumentava. Agora o sempre era uma certeza e a vida só delícias, para todo o sempre.
— Pra sempre te amarei, João.
— Sei disso, Maria. Nós dois somos para sempre.
— É, João, pra sempre.
Maria não tinha dúvidas quanto a João. E muito menos quanto a si mesma.
Eternamente para sempre… para sempre eternamente.
E a felicidade vivia com ela e tão plena estava que nem percebia João fazer-se um talvez. Esquivo hoje, amanhã — e ela não via ou não queria ver. Até que…
— Maria, vou-me embora.
— Por que, uai!
— Não te amo mais, Maria.
— Não?!
— Não.
— Assim, João?
— É.
— Mas não podemos… não posso fazer alguma coisa? Me dá um tempo, João.
— Não, não posso.
— Mas, João!
— Não volto mais, Maria. E é para sempre.
Esses dias aprendi, mesmo que com muita dor, que sempre que o seu "para todo o sempre" depender de ti e mais "alguém" ele não existe. Por mais que te digam mil vezes, diariamente, que o amor é para sempre; não acredite. É pura ilusão! A certeza do pra sempre só existe dentro de nós mesmo, no nosso coração, na nossa alma. O que vem do outro, por mais sincero que possa parecer naquele momento pode não ser verdadeiro. Já da nossa parte, por nos conhecermos melhor que ninguém, sabemos que ao dizer essa expressão é porque temos certeza total dela em toda sua amplitude. Tudo bem, não vou ser radical! O "para todo sempre" existe sim! Mas, só o que depender exclusivamente de ti, caso contrário, fatalmente, infelizmente, o seu "para todo o sempre" se tornará apenas um "foi eterno enquanto durou".
(By Mi§§ - Outubro/2009)

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